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Por que Tropa de Elite faz sucesso?

Por: NINA EIRAS DIAS DE OLIVEIRA - CRP 05/09409

Psicóloga com prática clínica fundamentada na fenomenologia e no pensamento de Heidegger.

                            O filme de José Padilha ocupa o primeiro lugar na lista dos lançamentos. Inicialmente sucesso de pirataria e, posteriormente, sucesso de público nos cinemas. Considerado um fenômeno nacional o filme convida para uma série de questões, que desencadeiam em muitos debates. Alguns dos temas que vêm sendo discutidos abrangem: a pirataria; o envolvimento do usuário de drogas com a violência; a sustentação do tráfico; os desafios em se tornar um oficial do Bope; o sistema da corrupção; o resgate da imagem do policial; a participação da classe média no tráfico de drogas; o papel da polícia e, o retrato transparente da nossa realidade.

Os desdobramentos do interesse pelo filme me intrigam e fico pensando no porquê do fascínio pelo filme. Por um lado há um discurso social por parte de alguns que dizem não assistirem mais nenhum jornal televisivo, “pois só mostra desgraça”, revelando uma certa desmotivação com a realidade.

Vivemos hoje reféns de uma sociedade de consumo, no caldo da superficialidade, do descartável; do hedonismo; individualismo; narcisismo e vaidade exacerbada; do isolamento; do deslumbramento pela visibilidade; da eternização da juventude e dificuldade de lidar com o envelhecimento e finitude; do afastamento de valores que implicam a relação com o outro como: solidariedade, generosidade e honestidade.

As universidades diminuem o tempo dos cursos, enxugando conteúdos e tentando atrair os estudantes com uma formação mais rápida. As escolas também esvaziam conteúdos importantes desde a educação infantil estruturando uma geração com pouco conhecimento e consciência corporal, com distorções na área da motricidade fina e ampla; prejuízos na: lateralidade, espacialidade, coordenação motora e no processo da escrita e leitura.

A dificuldade encontrada na interpretação, ou seja, na identificação e no conhecimento do que está sendo desvelado, perguntado ou anunciado, está entre um dos maiores desafios a ser enfrentado pelos professores de hoje. A progressão automática tenta burlar estatisticamente a ignorância de um povo.

Os filhos da Era Digital apresentam grande destreza e habilidade na informatização e na técnica, mas, grande afastamento nas questões relacionais e no autoconhecimento. Os valores hoje cultivados nos afastam da possibilidade de pensar e refletir sobre o mundo, as coisas e a nossa existência. Somos uma nação fácil de ser governada. Olhamos com cara feia para quem reclama, saímos de perto de quem se escandaliza e se resolvemos reclamar, o fazemos apenas no âmbito do desabafo. Pode mandar o imposto que a gente paga.

A democratização dá lugar ao autoritarismo no sistema judiciário e nas repartições públicas. Num processo judicial contra o governo o cidadão pode até “ganhar” mas não leva e, se o governo deve, não paga. É via de mão única.

A juventude atual entra cada vez mais precoce no mundo do álcool e das outras drogas, mergulhada num vazio existencial com proporções cada vez maiores. Não sabe, também, que intimidade implica numa relação de conhecimento com o outro que só acontece no tempo e, portanto, envolve uma amplitude muito maior do que apenas tirar a roupa.

Superprotegemos nossos filhos impedindo-os de aprenderem a gerir a própria vida e, muitas vezes, de terminarem o que começam: abriu gaveta? Fecha; destampou? Tampe; desarrumou? Arrume; sujou? Limpe; não estudou? Lide com as conseqüências.

Tarefa doméstica virou castigo e não co-laboração.

Porque o mostrar hoje dos desdobramentos da corrupção e da violência nos fascina? Porque quando vemos o mundo do jeito que está nos mobilizamos? Será que estamos começando a nos irritar com a nossa passividade?

Programação dos filmes em cartaz