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Em Algum Lugar do Deserto

Parecia ser um dia igual aos dos últimos cinco anos daquele menino franzino, que vagava pelas regiões do deserto. Era bem moreno, magrinho e narizinho perfilado, cabelos longos escuros, olhos castanhos. Curtido pelo sol do dia e o frio da noite. E, claro, também tinha seus amigos. Era muito esperto, mas a tenra idade não o deixava entender bem as coisas dos adultos.

Havia muito movimento naquele dia. Muito murmúrio, muito falatório a respeito de sua cidade, de seus vizinhos... Dos últimos acontecimentos, de uma tal “manjedoura” com um menino deitado nela... Camelos, animais, anjo... “Contavam estórias”... Quem seria?

Os pensamentos abstratos, principalmente os espirituais, são sempre suposições e contos verbais, ou algo ligado à fé (Hb 11,1 ss) “A fé é o fundamento do que se espera e a convicção das realidades que não se vêem”. Sempre é assim, também quando se fala sobre os episódios e parábolas bíblicas. Quanta coisa para crer e compreender!

Estas questões também começavam soprar naquela cabecinha esperta. Sabia o endereço de sua vila, junto de Belém; sabia até os nomes dos “homens” que mandavam em tudo: Herodes, Quirino, César. Quanta informação para aquele menino... Só não se convencia daquela  “estória” que andavam contando pelas esquinas; só não se convencia da “sorte” de muitas crianças como ele.

Naquela tarde ao por do sol, encontrou seu mais querido amigo. Um menino tão parecido com ele; um pouco mais novo. Eram em tudo tão parecidos que se consideravam irmãos. E começaram a conversar sobre estrelas, reinados, nascimento. Tudo a jeito deles, mas com sua infantilidade “inteligente”; isto mesmo: “inteligência precoce”.

Perceberam que a história mais “falada” naquele dia era muito parecida com as suas próprias vidas. Nasceram em simplicidade, em berço bastante rude, numa noite muito estrelada, na periferia da cidade, que os “mais velhos” até diziam estar iluminada por uma estrela muito grande que parou num determinado lugar, fora da vila. E que muitos vieram de bem longe... E que muitos até nem acreditavam... E que muitos admiravam...
E assim, aquelas duas criancinhas sonhavam de olhos abertos, vendo que em meio àquela poeira que os amarelava, naquele lugarejo esquecido pelo resto do mundo, alguma coisa havia acontecido.

Tanto falatório, tantos preparativos... Será que um daqueles reis  soberanos estava para chegar? Será que já chegou e não viram, nem perceberam? Porque tantas mães choravam e ao mesmo tempo, as suas mães se alegravam? Concluíram, em sua ingenuidade e infantilidade: “Seja lá quem for, já estava ali, e não era de hoje”. Eles sentiam e sabiam disto. Mas não podiam explicar. Eram pequenos demais e simples demais, para mostrar suas conclusões aos “mais entendidos”; para que acreditassem neles.

Era tudo tão fácil e simples para aqueles dois meninos empoeirados. “O menino Rei havia nascido já fazia cinco anos”! E ninguém se dava conta ?! Não compreendiam...

E foram dois: O menino do deserto, pouco tempo antes... e o outro, seu amiguinho irmão, logo depois.

Quanta confusão para as cabecinhas tão inteligentes mas tão simples. E porque os mais velhos faziam tanto barulho, comilança, festança, quando tudo lhes parecia tão singelo, simples e belo. Tão cheio de esperança e amor. Não, não compreendiam,  e nem era para compreender... A estrela estava de novo lá, brilhando muito... “Muitos já tentaram compor a história do que aconteceu entre nós, assim como nos transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra”.

É mesmo, muitos contaram esta “estória” de pai para filho; muitos esculpiram esta estória nas pedras, nos mármores. Nos muitos “contos da vida”. Pintaram em paredes, murais, telas e papéis. Pintaram a estória do menino do deserto e seu amiguinho, que juntos cresceram e viveram, um a falar do outro. E que deserto!

Um pagão convertido de nome Dr. Lucas, tempos depois, transformou esta “estória” em história. (Lc 1,1 ss). O menino do deserto, foi na frente: “Caminhará diante dele no espírito e no poder de Elias para reconduzir os corações dos pais para os filhos e os rebeldes para a sabedoria dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo bem disposto” Seu amiguinho, seguiu depois, e disseram dele: “Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo.

O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará na casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim”. O menino e seu amigo cresceram, tornaram-se homens; morreram jovens... porque não acreditaram Nele... porque eram João e Jesus.

Mas ambos deixaram, a partir de lá do deserto, em meio às “muitas poeiras da vida”, o sopro da luz, da verdadeira luz da vida. O Espírito de Deus. Ensinaram a vida no Amor fraterno para a Paz; na certeza da única Fé; e a genuína Esperança. Para sermos “sal da terra e luz do mundo”.

Walter Berner

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