Mulher negra! Resistência! Resiliência!
Paulo Sergio Gonçalves, professor da Estácio/RS e doutorando em Literaturas Africanas
24/07/2020 - 13:21 - Com os acontecimentos que culminaram na morte do americano George Floyd, assassinado por um policial branco após ter sido imobilizado e asfixiado em Minneapolis, nos EUA, no dia 25 de maio de 2020, discussões sobre o racismo invadiram as redes sociais. Porém, uma questão latente existe dentro de todo este contexto de protesto à morte de Floyd: quantos Floyds já existiram antes dele? Outro assunto mais urgente ainda é: "quantas Floyds" existem por trás da trajetória negra pelo mundo e, particularmente, no Brasil? Ora, se o homem negro é vÃtima do racismo ao longo da história, imaginemos o que passa a mulher negra diante de tal quadro que é discriminada por duas vezes ao mesmo tempo, uma por ser negra e outra por ser mulher inserida numa sociedade machista e preconceituosa.
O dia 25 de julho, reconhecido como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha deve servir como marco de uma luta pela maior visibilidade da mulher negra no contexto histórico, social, literário e posso elencar diversas áreas onde a sociedade deve posicionar-se a favor desta causa. Em 2014, no Brasil, a mesma data foi estabelecida como Dia Nacional de Teresa de Benguela, por meio da Lei nº 12.987/2014, como sÃmbolo representativo da resistência feminina negra e indÃgena no paÃs. É necessário, portanto, que sejam levantados questionamentos acerca das dificuldades enfrentadas pela mulher negra contemporânea no tocante ao acesso a questões básicas na sociedade (educação, saúde, saneamento básico, oportunidades de emprego), questionamentos sobre as engrenagens racistas de nossa estrutura social que empurram as mulheres negras à s condições de subalternização. Por outro lado, a data também serve para salientarmos as mulheres negras importantes de nossa sociedade (que são muitas), para que as demais se vejam representadas, a representatividade incentiva, encoraja, dá empoderamento. Chega de apagamento. Discutir o racismo e a morte de Floyd e as lutas contra essas práticas é muito importante, mas não podemos esquecer de todas as mulheres negras atingidas pelo duplo preconceito todos os dias, as Floyds sufocadas pelo sistema de uma estrutura patriarcal e racista que não são alcançadas pelas câmeras de um celular, porque vivem este sufocamento no silêncio de suas casas e de seus dias e carregam suas culpas na cor da pele e no seu gênero. Mulher negra! Resistência! Resiliência! Ana Paula Tapajoz |
|