Instituição com a maior concentração de peças da família imperial brasileira, o Museu Imperial, de Petrópolis, na região serrana do Rio, está prestes a adquirir um objeto valiosíssimo para seu acervo: a pena de ouro com a qual a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo a escravidão no Brasil.
A peça, de propriedade dos descendentes da princesa, está avaliada em R$ 500 mil e será comprada com recursos do Ministério da Cultura. A diretora do museu, Maria de Lourdes Parreiras Horta, apenas aguarda a liberação da verba.
Confeccionada especialmente para a assinatura da Lei Áurea, a pena é de ouro 18 quilates, tem 27 diamantes e 28 pedras vermelhas, mede 22 centímetros e pesa 13 gramas. A diretora espera que ela já esteja no museu para as comemorações dos 160 anos do nascimento da princesa, em julho.
"Esta é uma peça das mais importantes da história do Brasil. Tem um valor inestimável. Será uma grande aquisição para o museu", disse Maria de Lourdes, que tenta há alguns anos incorporá-la ao acervo.
Ela terá um lugar de destaque no museu, para que todos os visitantes possam admirá-la de perto. Ficará, provavelmente, na sala das jóias imperiais, disse o chefe de Museologia da instituição, o historiador Maurício Vicente Ferreira Junior. Da princesa Isabel, que tem uma sala só sua, já estão expostos, além de jóias, uma roupa de gala e objetos como leques, caixas de luvas, garrafas de cristal e porcelanas. Em outros espaços, são exibidos ainda as coroas de d. Pedro I e d. Pedro II e o cetro usado por eles.
A pena está num cofre, em Petrópolis. A negociação com o museu tem sido discretamente conduzida por Pedro Carlos de Orleans e Bragança, bisneto da princesa. O Estado tentou localizá-lo, pelo telefone, por três dias, mas ele não foi encontrado para comentar o assunto. Seus dois irmãos, Cristina e Francisco, confirmaram a venda, mas preferiram não comentar.
Existe outra pena, esta exibida no Museu Histórico Nacional (MHN), no Rio, como sendo a que foi usada pela princesa na tarde de domingo, 13 de maio de 1888. Mas a verdadeira é a que está com a família imperial.
Fonte: O Estado de S. Paulo - SP, Roberta Pennafort, 4/05/2006
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1) Lei Áurea (1888) |
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"Lei 3.353 de 13 de Maio de 1888 Declara Extinta A Escravidão no Brasil. A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Magestade o Imperador, o senhor D. Pedro II faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e Ela sancionou a Lei seguinte: Art 1o - É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Art 2o - Revogam-se as disposições em contrário. Manda portanto a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém. O Secretário de Estado dos Negócios da Arquitetura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de Sua Magestada o Imperador, a faça imprimir e correr. Dada no palácio do Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1888, 67 da Independência e do Império. Princesa Regente Imperial - Rodrigo Augusto da Silva. Desde 1 hora da tarde de anteontem começou a afluir no Arsenal da Marinha da corte grande número de senhoras e cavalheiros que ali iam esperar a chegada de Sua Alteza a Princesa Imperial Regente. As 2 horas e ¾ da tarde chegou a galeota imperial trazendo a seu bordo Sua Alteza a Princesa Regente acompanhada de seu augusto esposo Sua Alteza o Sr. Conde d'Eu, general Miranda Reis, e chefe de divisão João Mendes Salgado e dos ministros de agricultura e império. Sua Alteza trajava um vestido de sêda cor de pérolas, guarneado de rendas valencianas. Ao saltar no Arsenal foi Sua Alteza vistoriada pelas senhoras que ali se achavam, erguendo-se vivas a Sua Alteza e a Sua Magestade o Imperador. Às 2 ½ horas da tarde já era difícil atravessar-se o perímetro compreendido nas proximidades do paço da cidade. Calculamos para mais de 10.000 o número de cidadãos, que ali aguardavam a chegada de Sua Alteza Princesa Regente. (...) Pouco antes das 3 horas da tarde, anunciada a chegada de Sua Alteza por entusiasmáticos gritos do povo, que em delírio a aclamava, abrindo alas, ministério, camaristas e damas do paço vieram recebê-la à porta. Acompanhada de seu augusto esposo, subiu a princesa, tendo formado alas na sacada grande número de senhoras que atiravam flores sobre a excelsa Regente. Em seguida a comissão do senado fez a sua entrada na sala do trono para apresentar a Sua Alteza os autógrafos da lei. Nesta raia acham-se à direita do trono ministros e à esquerda os semanários e damas do paço. A comissão colocou-se em frente ao trono, junto ao qual estava Sua Alteza, de pé, então o sr. Senador Dantas, relator da comissão, depois de proferir algumas palavras, entregou os autógrafos ao presidente do conselho, para que este, por sua vez, os entregasse a Sua Alteza. O sr. ministro da agricultura, depois de traçar por baixo dos autógrafos o seguinte: - Princesa Imperial Regente em nome de S.M. o Imperador, consente - entregou-os a Sua Alteza que os assinou bem como o decreto, servindo-se da riquíssima e delicada pena de ouro que lhe foi oferecida. O povo que se aglomerava em frente do paço, ao saber que já estava sancionada a grande Lei chamou Sua Alteza, que aparecendo à janela, foi saudada por estrepitosos vivas. (...)" Gazeta da Tarde, 15 de maio de 1888 |
Fonte: http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/humanas/historia/jornais/01aurea.html
Fonte Foto: http://www.estadao.com.br/arteelazer/visuais/noticias/2006/mai/03/337.htm