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Conversando com Tê - Valsa pra Calau (réquiem)

Por Tê Barbosa - 30/04/2010

"Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há também aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol."    Pablo Picasso


Se tem uma coisa que sempre me emociona, é lembrar a minha trajetória quando o referencial são aqueles que me são caros; jóias preciosas que coleciono através do tempo e que mantenho guardadas no relicário da vida. Esses têm um lugar marcado no meu coração e do qual não abro mão de estar sempre afagando com carinho, mesmo que a vida ou o tempo nos afaste, temporariamente, do convívio diário ou que tenham ido morar em outras galáxias.

E assim são os meus amigos: como a raiz de um jatobá, forte e firmemente cravada na terra da pátria amada por mim. O amor que sinto por eles é uma estrada sem fim que me aproxima de Deus e que me faz acreditar que eu nasci pra ser feliz.


E assim foi Carlos Alberto Lopes que sempre conheci como Calau, desde o tempo em que os festivais de música deixaram as aldeias globais e se transferiram para Petrópolis, me fazendo subir a serra para encontrar petropolitanos, amigos dos mais queridos, e aplaudi-los sob a nobreza do Palácio Quitandinha. Idos de 70, se bem me lembro, e me espanto ao perceber que já se passaram cerca de quarenta anos.

“...e se acaso eu sentir longe a paz; vou inerte; sou torrente; vou jogado no seu corpo; sou poeta em vendaval...” (Calau – Festival de Música – Palácio Quitandinha - década de 70)

Calau que foi compositor, ator, escritor, poeta; que foi homem de teatro, com lastro e de fato, um homem de cultura. E muito mais inconteste ainda foi, mais do que um homem da política, um homem da cultura. Cultura que é mais do que “circo e pão”. É raiz inabalável que se eterniza através de todos os tempos, de todas as expressões impressas, audiovisuais e corporais. É plural e democrática. É um coral de quinhentas vozes a embalar lindas noites de Natal. Bravo, Calau!

Aplausos para Calau! Sensível apresentação nos Saraus do Rio Negro. Bravo! Para a Suite no. 1 (Milongando, Valsa pra Você e Choro Quebrado – em 2000), composição de Calau que levou às lágrimas esta pobre mortal. Lágrimas de emoção gravada na coleção de minhas lembranças mais queridas. Lágrimas de alegria pelo amigo, cuja trajetória sempre foi motivo de orgulho e de admiração. Hoje, lágrimas de saudade pelo que talvez eu não possa voltar a apreciar com a partida desse ser-amigo e desse homem-plural.  Saudades, Calau!

Certa vez, de uma forma simplista, disseram: o que é um amigo? Uma única alma habitando dois corpos. Mentira de dois! Calau era uma alma que habitava múltiplos corpos. Do pai-amigo, dos filhos queridos, da vida, da companheira amada, dos companheiros de jornada, dos amigos que verdadeiramente o amaram, o cultivaram e que tinham nele um dos nortes a ser considerado.  Adversários? Calau era um contraponto a ser respeitado. Bravo!
 
Do verão à primavera, Calau era o mesmo, sempre, em qualquer estação, a qualquer tempo: sorriso largo, gargalhada cheia, peito aberto, abraço envolvente, com seu jeito de ser e brilho próprio, sua garra, seus sonhos, suas certezas, sua sensibilidade, seu amor por Petrópolis e pelos amigos de todos os matizes, mas com um quê a mais: convivia com pessoas, sem radicalismos ou julgamentos que limitassem ou excluíssem o conviver, simplesmente por haver compreendido, em sua humanidade, que a diversidade de cada um, é manancial de conhecimento e de aprimoramento na escola da vida. Bravo!

Aplausos para Calau! Que agora fecha as cortinas do passado. Que sobe ao palco da eternidade e se torna presença imortal para aqueles que verdadeiramente imprimiram, no coração, a marca da amizade: CALAU. Até qualquer dia, amigo!     



 

 

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