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Conversando com Tê - Roosevelt e a Páscoa

Por Tê Barbosa - 19/03/2008

Dia desses almocei displicentemente recostada a minha cama, em frente à TV, na hora do jornal Hoje. Entre as mesmices noticiosas de sempre, me chamou a atenção a figura mendicante de Roosevelt, um morador de rua, entrevistado pelo dito telejornal. A bem da verdade, isso já faz um bom tempo mas ainda trago guardado em minha memória.

Alguns que estão me lendo, devem estar se perguntando da relevância de tal lembrança, mas adianto, e confesso, que me fez muito pensar nessa nossa vida errante de cada dia. Por que errante? Porque hoje dormimos, sem saber se amanhã acordaremos com trabalho, saúde - ou vivos, tal o caos cotidiano que nos assola e nos afasta das coisas boas da vida. Talvez tenhamos nos permitido a desaprender a ser felizes.

Penso que a felicidade é um aprendizado. Mais do que merecimento, é esforço diário; é deixar o orgulho, a presunção e o nariz em pé dentro da gaveta. É um exercício constante de humildade - não essa humildade subserviente e piegas, mas aquela que nos faz entender que até felicidade e sucesso passam, como tudo na vida.

Voltando ao assunto inicial, lá estava Roosevelt, um homem pequeno com nome de presidente de primeiro mundo; rugas nas faces a denunciar as intempéries da vida e em seu caso, as perdas e danos dos que são desvalidos da sorte. Roosevelt que vai pelas ruas com seus pertences ambulantes - pendurado em ombros errantes, porque a casa já é itinerante. Um cobertor, um dicionário de inglês, um de português  e outros parcos apetrechos que foi colhendo pela sua vida andarilha e a mercê das armadilhas dos dias e das noites, das ruas desse nosso país varonil.

Ele ganha trocados olhando ou lavando carros, que lhe compram o cigarro que traz colado à boca enquanto fala, e as migalhas que provavelmente lhe sustentam a fome. Nos seus poucos minutos de fama, enquadrado na telinha, Roosevelt passa um certo ar bem-humorado, de quem aceita a vida como ela é, sem perder de vez o horizonte ou desistir do norte. Ele traz ainda entre braços amorosos o seu precioso violão que dedilha com carinho, lembrando o tempo, pasmem, que passou aprendendo numa escola de música.

E fala de Mozart, de Bach, de Beethoven e me surpreende arranhando letras de música em inglês, que se não me falha a memória, era dos Beatles. O português? Razoável. Talvez melhor do que muitos que se dizem letrados. A performance diante da TV? Sem deslumbramentos, apenas me passando a impressão de que aproveitou o momento para dizer: Eu existo. Eu sou um cidadão brasileiro...humano apesar de tudo. Diante dessa cena, fiquei a imaginar a minha vida; a vida de todos nós, comparada a essa figura humana; a perguntar a mim mesma, como? - quando? - por quê? Em que momento o roosevelt que existe dentro de cada um de nós, perdeu o fio da meada?

Cheguei até a me lembrar de dizeres sacrossantos ou algo assim: “Olhai para os lírios do campo, como eles crescem: não trabalham nem fiam; Eu vos digo que nem mesmo Salomão em toda sua glória, se vestiu como qualquer deles”. E a medida em que fecho estas aspas, esqueço as agonias; fecho os olhos em prece, agradecendo a Deus: o teto, o alimento e este momento abençoado de estar Conversando com Tê. Esperança, am

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